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>MOISÉS, O XERIFÃO

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Como a minha manhã de hoje é em trânsito – afinal, estou retornando ao Rio após um início de semana de trabalho em Goiânia -, não tenho muito tempo para olhar a internet, pois estou perdido em conexões e check-ins sem fins em aeroportos. No entanto, sempre quando posso, saco o meu notebook da mochila para saciar o meu vício virtual. Por exemplo, esse Escriba está agora escrevendo este post em uma mesa no Aertoporto de Congonhas (SP), de olho no painel eletrônico para não perder o meu vôo de retorno para a Cidade Maravilhosa. É nessas horas que me sinto, mais do que um turista, um verdadeiro ser errante, perdido na liquidez da pós-hiper-modernidade estendida…

Zapeando a internet, sou tomado pela triste notícia da morte do eterno “xerifão” da zaga Moisés, que jogou no Vasco da Gama e foi um dos responsáveis pela fase áurea do time do Bangu durante os anos 1980. Moisés foi treinador do time alvi-rubro da Zona Oeste, e inclusive conseguiu levar o time ao vice-campeonato brasileiro, em 1985, na final fatídica contra o time do Coritiba, decidida nos pênaltis.
Esse Escriba que vos fala estave lá, no Maracanã, acompanhando o time de Marinho, Ado, Arturzinho & Cia. Foi uma tristeza de doer após o jogo. Depois dele, o Bangu nunca mais voltou a ser o mesmo, e atualmente navega melancolicamente pela segunda divisão do futebol carioca…
Moisés era uma figura tipicamente carioca, semelhante ao Joel Santana, com uma linguagem de malandro repleta de gírias de boleiro. Foi o fundador, nos anos 1970, do famoso “Bloco das Piranhas” – um bloco carnavalesco que saía pelas ruas de Madureira arrastando os foliões com jogadores de futebol famosos travestidos de mulher. Quando eu era moleque, lá no subúrbio, cansei de ver o bloco do Moisés e sua trupe de jogadores. Meu irmão, sempre que podia, saía no bloco, e era uma algazarra daquelas que hoje não existem mais. Saudades de um tempo que, infelizmente, não volta mais…
Além disso, era um frasista de mão cheia, com tiradas ótimas sobre o futebol e a vida, sempre inspiradas pelos ditos populares. Uma de suas frases mais famosas era a de que “zagueiro que se preza, nunca ganha o Belfort Duarte”.
Para os menos envolvidos com a cultura do futebol, Belfort Duarte era um prêmio outorgado pelo famoso periódico esportivo carioca Jornal dos Sports – fundado pelo cronista Mário Filho, pai de Nélson Rodrigues, e que dá nome ao Estádio do Maracanã, e ativo até hoje, em sua pitoresca coloração cor-de-rosa -, para o jogador que não era expulso de uma partida durante toda a temporada. Em tempo, Belfort Duarte foi um famoso jogador do América do Rio de Janeiro – o queridíssimo Sangue – que era conhecido por seu cavalheirismo e fidalguia para com os seus adversários…
Moisés andava sumido nos últimos tempos, e agora sei pelo noticiário que ele lutava contra um câncer que lamentavelmente acabou interrompendo a sua vida. Triste para nós, ótimo para o céu, pois ele deve estar agora sendo recepcionado por outros “malandros” fantásticos que lá habitam, com uma festa daquelas – com carnaval e tudo…
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